Uma solução para a Crise
Com inspiração no modelo alemão, foi anunciada uma proposta das centrais sindicais CUT, Força e UGT para combater o desemprego que está chegando para valer.
As bases propostas e divulgadas são, a princípio, interessantes e simples:
30% de redução de jornada.
70% do salário é pago pela empresa.
15% do salário é pago por um fundo anticrise (FAT ou FGTS).
85% do salário é o que receberá o empregado impactado.
Encargos continuam a ser recolhidos pela empresa.
Duração de até um ano, podendo ser prorrogada.
Obrigatória a negociação com o sindicato.
Esse tipo de solução paliativa através da redução de jornada e salário já vem sendo utilizada, em outras bases, por inúmeras empresas, juntamente com a prática de afastamentos do trabalho via férias coletivas, licenças remuneradas e “layoffs”.
Essa atitude altruísta do movimento sindical para com as empresas chega a ser surpreendente, uma vez que suas ações nos últimos anos, inclusive em 2014 e em 2015, têm sido na direção contrária, chegando ao absurdo de incentivar e realizar greves nas negociações por aumento real e pela participação nos lucros ou resultados, pleiteando valores que nada têm a ver com a crise por que passa a maioria das empresas brasileiras.
A nossa história recente e o cenário trabalhista sindical indica claramente o que se poderá esperar dessa prática proposta, inovadora quanto à sua origem sindical.
Nada indica que a negociação obrigatória será facilitada pelas lideranças e pelos negociadores sindicais. Certamente as lideranças sindicais quando procuradas não pouparão criatividade na elaboração da pauta de reivindicações como contrapartida para o acordo como, por exemplo, a estabilidade por longo tempo após o período negociado para a prática da redução de jornada e salário ou ainda a concessão ou incremento de benefícios e serviços sobre os quais não incidam encargos sociais ou tributos.
A complexidade operacional dos negócios, a necessidade de manutenção da produtividade, o atendimento às exigências legais trabalhistas, a motivação e o engajamento dos empregados, são fatores que irão demandar das empresas um planejamento estratégico, tático e operacional, envolvendo itens como:
Estudo e adequação dos regimes, escalas, jornadas e horários de trabalho e descanso:
Quanto, como e em que dias da semana as horas serão reduzidas?
Haverá necessidade de alteração dos horários de trabalho?
Como ficarão os regimes de trabalhos ininterruptos, cujas máquinas não podem ser desligadas?
Comprometimento e capacitação das lideranças para lidar com um novo modelo de regime de trabalho com jornada e salário reduzido:
Como manter a motivação e o comprometimento do pessoal?
Como tratar os desvios de comportamentos e atitudes dos empregados, sem gerar ressentimentos e mágoas?
Aumento das dificuldades para se fechar convenções e acordos sem aumentos reais de salários e/ou com reajustes abaixo da inflação sob a alegação de que os trabalhadores já estão com os salários reduzidos.
Com essa proposta as centrais sindicais podem estar criando mais uma valiosa moeda de troca para quando do retorno à normalidade - a redução da jornada semanal de 44 para 40 horas sem a correspondente redução de salários, um antigo e permanente pleito sindical. Algo na linha “na crise os trabalhadores deram a sua parte de sacrifício em prol das empresas e, passada a crise, são merecedores da redução de jornada em caráter permanente”.
Capacitação das empresas, direção, negociadores e lideranças internas para negociar diante de novos paradigmas.
Se houver interesse, estou disponível para explorar o tema com você.
Heli Gonçalves Moreira
heli@hgmconsultores.com.br
(11) 4727-3139
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